A lenda indígena dá conta de que Iara é uma sereia dos rios que encanta os homens com sua beleza e os arrasta para o fundo do rio, onde eles morrem de amor ...
A vida de Teófilo, Téo para os amigos, consistia em uma enfadonha e pesarosa rotina diária, comprimida entre trabalho, escola, família e uns poucos amigos. Téo não era malvisto, muito menos tido como um sujeito estranho, mas, por outro lado, ele não era alguém que atraísse as pessoas para perto de si; também não era alguém a ser evitado …, Téo era apenas uma vítima da indiferença.
Era assim que ele pensava, enquanto, no fim da noite, esperava pelo ônibus intermunicipal que o levaria de volta para casa, após mais um dia árduo de trabalho e uma sequência de aulas sem sentido, tendo à sua espera, uma mãe zelosa, um pai alheio e uma comidinha frugal.
E quando o coletivo estacionou no ponto, Téo foi cumprimentado efusivamente pelo motorista Januário e o trocador Leôncio que de tanto ver as indas e vindas do rapaz, acostumaram-se com ele sendo um dos únicos passageiros naquela que, via de regra, era sempre a última viagem da linha. Téo cumprimentou seus conhecidos, pagou a passagem, entrou e sentou-se no lugar de sempre: a último banco no fundo do ônibus.
Januário partiu seguindo o trajeto costumeiro e pegando sempre as mesmas pessoas; eram mais cinco além do Téo: dois trabalhadores da construção civil, um vigilante, uma guardete e uma baconista que teimava em vestir-se com roupas curtíssimas e provocantes.
Todavia, naquela noite, surgiu mais um passageiro. Foi em um ponto que ficava no meio do nada, escuro e sem proteção, onde estava uma jovem cuja beleza era algo inacreditável. Assim que ela entrou no ônibus, Téo viu-se arrebatado pela beleza exótica da jovem; era uma morena de longos cabelos negros, olhos amendoados, lábios carnudos, corpo escultural e um sorriso quase divinal.
E Téo mal pode crer quando percebeu que o sorriso era para ele, apenas para ele. Em poucos minutos, ela estava sentada ao lado do rapaz que, desajeitado e encabulado, mal conseguia olhar para ela. Tentava controlar o ímpeto de olhar para ela e encantar-se com sua beleza cativante.
“Olá, meu nome é Iara, e o seu?”, a frase caiu como um raio na cabeça de Téo que, durante alguns minutos, ficou embasbacado pensou que ela não estivesse se dirigindo a ele, mas não demorou a perceber que não havia mais ninguém ali próximo deles. Ele olhou para ela, cabisbaixo e disse seu nome. Iara disse a Téo que ele era muito bonito e perguntou coisas sobre sua vida.
Pouco a pouco, Téo foi se descontraindo e no curso da viagem entrosou uma conversa agradável com a jovem, cuja beleza era estonteante. Iara quis saber de tudo a respeito da vida do rapaz, e a cada resposta, Téo recebia um sorriso simplesmente cativante como prêmio. Foi o primeiro dia de sua vida que o longo trajeto de ônibus pareceu transcorrer em um piscar de olhos, pois, um ponto antes do fim da linha, Iara disse que precisava ir. Mas, antes de descer, prometeu-lhe que se encontrariam na noite seguinte.
Téo desceu do veículo sentindo-se nas nuvens; sonhava como Iara era bonita, atraente e sensual. E mesmo após um momento de hesitação, ante a incerteza dos sentimentos da jovem por um sujeito insosso como ele, congratulou-se pelo sorriso que, finalmente, a sorte lhe dera.
Tudo no dia seguinte pareceu diferente e também arrastado. O trabalho parecia mais enfadonho, as conversas paralelas dos colegas não tinham nenhum atrativo e até mesmo as aulas pareceram mais chatas que o usual …, tudo porque Téo somente tinha pensamentos para Iara e seu sorriso inebriante.
Finalmente, as aulas terminaram e Téo correu para o ponto de ônibus, onde Januário e Leôncio já estavam de prontidão, aguardando seu passageiro mais fiel para seguirem viagem. E no mesmo ponto do dia anterior, Iara entrou e ver ter com o rapaz em mais uma conversa agradável e gratificante.
E os dias seguiram-se, um após o outro, sempre com a mesma expectativa do rapaz em reencontrar sua Iara no trajeto de volta para casa. Era algo tão significativo, que Téo não pensava em mais nada. Deixara de lado a atenção que dispensava ao seu trabalho e a organização de sua mesa; esquecera-se por completo de datas de provas e entrega de trabalhos, sendo repreendido por alguns professores por sua desídia e falta de interesse.
Em casa sua mudança foi imediatamente percebida por sua mãe, que preocupava-se com o estado do filho que mal se alimentava e mal dormia. Seu sentimento materno dizia que havia algo errado, mas ela não conseguia extrair do filho uma conversa sincera a respeito disso. Cobrou o marido que deu de ombros dizendo que era coisa da juventude e que logo passaria.
A vida de Téo resumira-se aos encontros noturnos com Iara, seu sorriso, sua beleza e sua voz melodiosa …, ela era tudo de bom! Ele pensava nela dia e noite, noite e dia …, se, por um lado, sabia que não tinha nenhuma chance com a bela jovem, por outro, nutria a esperança de que, um dia, ela o visse com outros olhos …, os olhos de um apaixonado.
Até mesmo Januário e Leôncio preocupavam-se com o amigo, mas, igualmente a sua mãe, não conseguiam tirar dele qualquer comentário. E os dias seguiram seu curso, recompensando Téo com seu encontro habitual com Iara. Todavia, ele sentia que aquela relação amigável não frutificava em algo mais íntimo …, e tudo porque ele não tinha coragem de declarar-se para ela …, dizer a ela que a amava e deseja mais que tudo na vida …, e, assim, Téo começou a definhar por sua própria covardia.
E houve uma noite que tudo mudou! Antes de saltar, Iara perguntou ao amigo se ele queria ir com ela; Téo sentiu seu coração pular no peito, a respiração ficar difícil e a garganta secar como o deserto do Sahara. Iara deu um sorriso e estendeu-lhe a mão. Téo, instintivamente, segurou a mão dela e segui-a para fora do coletivo.
Era um lugar ermo e apenas o intenso e caudaloso luar da noite iluminava a região. Por mais estranho que pudesse parecer, Téo não sentia medo ou receio, apenas segurava a mão de Iara enquanto caminhavam, juntos, para uma trilha que se afastava da estrada, entrando mata adentro. Téo sentia o calor gostoso da mão da sua amada e seguia confiante.
Depois de algum tempo, ele e sua companheira chegaram nas bordas de um rio relativamente largo que serpenteava volumoso, mas tranquilo. Próximo desse lugar fantástico, havia uma pequena palhoça sem paredes que acomodava um leito improvisado com algo parecido com a pele de um bovino e penas de aves. Ao lado do leito uma pequena bancada de junco suportava um vasilhame de barro e algumas frutas frescas.
Téo sentiu-se transportado para um lugar em outra dimensão, onde tudo parecia muito real, mas, ao mesmo tempo, tinha uma aura etérea e insólita. Iara olhou para Téo e sorriu, convidando-o a deitar-se com ela. O rapaz ficou atônito e incapaz de fazer ou dizer algo. A jovem riu do modo desajeitado de seu parceiro e, soltando sua mão, caminhou até a palhoça.
Quando lá chegou, Iara voltou-se na direção de Téo e depois de um olhar carregado de sensualidade, ela começou a despir-se. E o fez como uma arte, permitindo que o rapaz se deleitasse com a visão de sua nudez exuberante e perfeita. Terminado o pequeno espetáculo privado, Iara deixou que Téo apreciasse cuidadosamente sua nudez, concedendo-lhe uma oportunidade única de ver uma mulher nua insinuando-se para ele.
Iara estendeu a mão e levantou o indicador, chamando pelo rapaz para que viesse até ela. Sentindo-se flutuando, Téo aproximou-se de Iara e assim que estava muito perto dela, foi recepcionado por um beijo carregado de desejo. O rapaz estava arrebatado pelo beijo de Iara e por algum tempo não foi capaz de atinar com o que lhe rodeava, sentindo apenas as mãos hábeis da moça desabotoando sua camisa e desnudando seu peito que foi acariciado por mãos quentes e macias. Deixando os lábios do rapaz sedentos por mais beijos, Iara ajoelhou-se perante ele, tencionando terminar de despi-lo completamente.
Rapidamente, as calças escorregaram até cair ao chão, e a cueca foi abaixada, revelando toda a pujança do membro duro e pulsante do rapaz. Iara segurou-o com uma das mãos, enquanto a outra massageava o escroto inchado, fazendo Téo cerrar os olhos, suspirar e gemer de prazer. Ele não sabia mais se tudo aquilo era sonho ou realidade, e tinha receio de abrir os olhos e ver-se imerso em solidão, vazio e abandono.
Iara beijou carinhosamente a glande inchada e disse em voz baixa uma frase que fez Téo entregar-se por completo. “Não pense …, apenas sinta!”; aquelas palavras operaram uma enorme sensação de bem-estar e autoconfiança no rapaz que, imediatamente, entregou-se de corpo e alma aos braços da mulher da sua vida.
Ele puxou-a para si e novamente beijaram-se apaixonadamente. Téo segurou os seios firmes e roliços de sua parceira e apertou delicadamente os mamilos entre os dedos, fazendo Iara gemer. Desceu a sua boca até eles, e depois de beijá-los com ternura, chupou os mamilos intumescidos, saboreando-os tal fruta madura. Lambeu as aureolas, fazendo sua parceira gemer mais uma vez, enquanto acariciava os cabelos revoltos dele, sem descuidar-se do membro que permanecia entre suas mãos hábeis.
Repentinamente, Iara transformou-se em uma fera carregada de sensualidade, mordiscando o peito de seu parceiro e lambendo seus mamilos. Fez com que Téo se deitasse no leito improvisado e deliciou-se saboreando seu mastro duro. Ela beijava a glande, chupava o membro e lambia o escroto, causando espasmos cada vez mais prolongados no rapaz.
Prosseguindo em seu intento, Iara ficou de joelhos sobre o rosto do rapaz, oferecendo-lhe seu sexo úmido e dilatado. Téo beijou várias vezes a região, detendo-se nos grandes lábios que pareciam suplicar por sua língua; ele lambeu e chupou aquele pedacinho de carne, provocando arrepios no corpo de sua parceira, que jogava a cabeça para trás, enquanto gemia tresloucada. Téo sentiu-se confiante e, com as mãos, entreabriu os lábios, deixando que eles lhe revelassem o clítoris que pulsava de forma insana.
O rapaz, extasiado, tocou o pequeno membro com a ponta da língua, lambendo suavemente; Iara gemeu mais alto, enquanto suas mãos acariciavam os cabelos dele. Téo chupou e mordiscou o clítoris, provocando um enorme onda de prazer em sua parceira que, não resistindo ao assédio, pediu que ele a chupasse até gozar. Téo obedeceu e chupou o clítoris da parceira, arrancando-lhe uma sequência de deliciosos orgasmos sucessivos.
Iara continuava com a sua vagina sobre o rosto do rapaz, enquanto uma de suas mãos segurava firmemente o membro ereto, massageando-o vigorosamente. Deixando de lado a sequência quase interminável de gozos proporcionados a ela, Iara sentou-se sobre o membro de Téo e segurando-o pela base, deixou que sua vagina lubrificada escorregasse na direção dele, sendo penetrada com lentidão, pedaço por pedaço, até que o instrumento desaparecesse dentro dela.
Iara comandava os movimentos, subindo e descendo em direção ao membro duro e grosso de seu parceiro que a segurava pela cintura, deixando que o ato fluísse de modo deliciosamente natural. Iara gozou mais vezes, anunciando para seu parceiro e dizendo-se realizada pela destreza sexual de Téo. Eles copularam como loucos, sem noção de tempo e de espaço, pois, ali, naquele momento, havia apenas um casal entregando-se de corpo e alma.
Muitos orgasmos depois, Iara levantou-se e ficou de quatro ao lado do rapaz, pedindo que ele a submetesse da melhor forma possível. Téo compreendeu o que ela queria dizer-lhe e levantou-se, tomando posição atrás da jovem. Seu instrumento estava bastante lambuzado e depois que ele beijou e lambeu o ânus de Iara, segurou-a pela parte posterior das nádegas. Com a outra mão, segurou seu membro pela base, apertando-o com cuidado, gesto que fez sua glande inchar ainda mais.
A penetração anal foi, inicialmente, resistente, deixando claro que aquele era um orifício ainda intocado, mas Téo não recuou, avançando lentamente para dentro de sua parceira.
Iara resistia com bravura, bufando e arfando discretamente, permitindo que seu parceiro seguisse em seu intento. Téo avançou com determinação, até sentir que a invasão havia chegado ao final. Ele, então, estocou com movimentos longos e demorados, fazendo com que aquele sexo anal fosse o melhor da vida de ambos. Porém, Iara não lhe deu trégua, jogando seu traseiro na direção contrária e intensificando os movimentos, até que o ritmo se tornasse frenético.
O primeiro orgasmo dela chegou em breve, e Téo sentiu uma vontade incontrolável de inclinar-se para a frente, buscando com uma das mãos o clítoris da parceira que foi, novamente, massageado, propiciando mais uma sequência de gozos febris e anunciados aos gritos e gemidos pela parceira.
Incansável, Téo prosseguiu até que não lhe restasse uma gota de energia nas veias e anunciou para sua parceira que seu orgasmo tornara-se inevitável. Iara pediu-lhe, gentilmente, que gozasse dentro dela, enchendo-a com seu sêmen quente e viscoso. Téo soltou um grito animalesco enquanto ejaculava com uma ferocidade inexplicável.
Extenuado e sem vigor, o rapaz desabou ao lado da parceira, sentindo uma dormência tomar conta de seu corpo e de sua alma. Todavia, Iara não pretendia que ele se entregasse a uma aventura onírica sem mais nem menos. Subiu sobre ele e cobriu-lhe o rosto de beijos apaixonados. Téo olhou para o rosto angelical de Iara e vislumbrou um sorriso iluminado.
“Vem comigo”, disse ela com a mais doce das vozes. “Vem nadar comigo para recuperar suas energias para mim …, vem ...”
Téo sorriu para ela e incapaz de negar qualquer pedido feito por Iara, esforçou-se para ficar em pé e de mãos dadas, seguiu-a em direção ao rio. Sentiu a água fria molhar seus pés e pernas e continuou até que todo o seu corpo estivesse imerso no rio caudaloso e que passara de uma calmaria para um curso intenso e furioso. Iara estava de frente para ele, segurando suas mãos e puxando-o cada vez mais para o fundo do rio. Téo não resistia, deixando-se entregar ao sorriso quase hipnotizante de sua parceira.
Logo, eles haviam mergulhado no rio e Téo respirou fundo, tentando segurar a respiração. Iara sorriu para ele o abraçou, selando seus lábios nos dele. O olhar brilhante e o beijo apaixonado de Iara tornavam-se, pouco a pouco, etéreo e encoberto por uma lâmina turvada da água do rio. O beijo não tinha fim e Téo sentiu que o ar lhe faltava …, ele estava à beira do sufocamento, quando sua parceira libertou seus lábios. Restou apenas o sorriso de Iara …, o sorriso e um canto que parecia tomar conta da alma do rapaz … e, sem mais nem menos, tudo começou a escurecer …, e escurecer …, e ficar frio, distante …, até que Iara desaparecera …, e restou apenas o nada vazio …, não havia tristeza, solidão, medo ou qualquer outro sentimento …, não havia mais nada!
Um choque! Vozes distantes …, choro e lamentações …, um bip apitando intermitente e uma luz tão brilhante que chegava a machucar os olhos; Téo estava tentando atinar onde estava. Esforçou-se em abrir os olhos e quando conseguiu viu onde estava …, era um hospital ou coisa parecida …, mas, porque? O que havia acontecido …, novamente, perdeu os sentidos …
Dias depois, Téo acordou em um quarto de hospital. No braço um cateter fincado em sua veia comprovava sua suspeita: ele estava doente; mas, onde estava Iara e como ele chegou até ali? O que havia acontecido. Enfermeiras vieram e se foram. Médicos passavam por ele, avaliando sua situação com a observação dos equipamentos que ficavam ao lado da maca. Demorou algum tempo até que ele conseguisse recobrar completamente a consciência.
“Porque você fez isso, meu filho?” A voz complacente e amável de sua mãe o trouxera de volta à realidade; mas, pensou ele, não havia feito nada. Perguntou o que havia acontecido. E ouviu a mais insólita das narrativas. Téo fora encontrado e resgatado de uma represa próxima da cidade. Estava quase morto e sua salvação deu-se pelo esforço e dedicação dos médicos que o atenderam.
Desesperado e com a voz fraca ele perguntou por Iara e recebeu como resposta, uma pergunta: quem era Iara?
As explicações que vieram a seguir eram as mais esdrúxulas e inimagináveis possíveis. Sua mãe contou que ele desaparecer por muitos dias e que a última vez que fora visto, foi no momento em que decidiu saltar, sozinho, do ônibus, mesmo quando Januário e Leôncio lhe alertaram que o trajeto ainda não havia terminado.
Soube também que somente foi encontrado e resgatado porque um pescador o puxou juntamente com sua rede de pesca e que, desesperado, ligou para o serviço médico de urgência. Téo estava completamente atônito e sem palavras …, e por mais que repetisse onde estava Iara, ninguém sabia explicar-lhe, devolvendo a pergunta “quem era Iara”.
Meses se passaram até que Téo se recuperasse completamente e recebesse alta hospitalar. Em casa, o rapaz não parava de pensar em Iara e no que ela havia representado para ele. Quando sentiu-se forte o suficiente, procurou por Januário e Leôncio. Encontrou os amigos felizes por sua recuperação e alegraram-se com sua presença.
Depois de conversarem sobre o que havia acontecido naquela noite, Téo perguntou-lhes sobre a moça com quem ele conversava todas as noites. Motorista e trocador se entreolharam estupefatos, e depois de um silêncio perturbador, perguntaram-lhe a que moça ele se referia. Téo esclareceu-lhes que se tratava da moça que entrava no ônibus no meio do caminho e sentava-se com ele no fundo do veículo.
Januário, nitidamente desconfortado, fez um silêncio ritual para, em seguida, dizer-lhe que não havia moça nenhuma e que ninguém, além das pessoas de sempre tomavam o ônibus naquele horário …; Téo ficou alguns minutos em silêncio e depois de respirar fundo, abraçou os amigos e despediu-se indo embora.
Dias depois, Téo foi até a represa onde fora resgatado e ficou ali, na eclusa, apreciando a água e pensando …, o que acontecera …, Iara fora uma ilusão? Tudo não passou de um engodo da sua mente? E aquela noite? Foi apenas um sonho?
Sem opções e oportunidades, Téo retomou sua vida insossa e sem graça.
Muito tempo depois, em uma nova viagem de ônibus, lá estava Téo e as pessoas de sempre …
Ele já não sonhava mais, e, muito menos, pensava mais. Apenas sentia um vazio interior e uma enorme tristeza. Iara se fora e com ela foram suas esperanças de ser feliz, de amar e de ser amado, de desejar e ser desejado …, tudo fora um triste e quase tenebroso pesadelo.
Tomado por uma tristeza incalculável, Téo não queria mais viver, apenas queria a sua Iara. Já não comia mais, não dormia e não conseguia relacionar-se com ninguém. Vivia uma existência vazia e sem significado. Por duas vezes tentou o suicídio, mas foi salvo por vontade de um destino que, aos seus olhos, parecia um algoz tenebroso e sarcástico.
Por várias vezes, voltou à eclusa onde havia sido resgatado, e lá de cima, contemplava a imensidão de água doce desejando nela mergulhar e morrer …
Muitos meses se passaram até que o vazio profundo dominou por completo a alma do rapaz e ele começou a definhar, sem ânimo para continuar vivendo. E foi numa noite de lua cheia que Téo ouviu um canto, e logo depois a voz de Iara, que tomou sua alma. Como que puxado por esse canto e pela voz, ele saiu de casa e caminhou sem destino, chegando ao mesmo lugar onde ele e sua amada havia feito amor pela primeira e única vez.
E ela surgiu …, vindo do rio, Iara estava deslumbrante em sua nudez avassaladora e convidativa que sempre cativou o rapaz. Ela olhou para ele, sorriu-lhe com ternura e estendeu sua mão. “Vem comigo …”, disse ela com a mais doce das vozes; “vem comigo, porque você me pertence!”
E Téo foi com ela …, foi-se para sempre para os braços e o beijo da sua Iara …